sábado, 12 de abril de 2014

O mais excêntrico pedido de casamento!

Do Livro "Retalhos do Sertão"
do meu saudoso Tio Alício Barreto. 


"Nosso Senhor tem morador neste mundo velhos de toda qualidade...", assim falou-me  o amigo José Palmeira. Certo dia, quando palestrávamos em seu posto de gasolina e  ele prosseguiu: "...próximo ao sítio em que morávamos, deu-se um pedido de casamento que foi o mais interessante que possa imaginar.

Xilogravura: J. Victtor
O velho Pai de uma moça estava, de manhã cedo, sentado de cócoras em frente ao seu casebre amolando uma foice debaixo de uma latada, à beira da da estrada, quando surgiu em disparada na sua frente um cavaleiro afoito que ao brecar o cavalo levantou uma rajada de poeira em cima do ancião e falou-lhe grosseiramente:

- Bom dia, diabo velho!

O ancião ligeiramente levantou-se e retrucou aborrecido:

- Bom dia, diabo nojento! Você é cego, debochado ou é doido?

- Nem cego, nem debochado, nem doido.  - respondeu o visitante:  e vim foi  pedir sua filha Joana em casamento. Se quiser dá, dê! E se não quiser, dane-se! Vá pro inferno com todo sua 'famia', porque não sou adulo macho nem mulé!

- E você tem posses pra sustentar uma mulé seu cabra da peste sem vergonha?

- Se não tivesse, cá não teria vindo, tá abistontado é?

- Pois se tens posses e coragem pra 'trabaiá pru mode' de minha 'fia' não passá fome, apei-se e vamos marcar o casamento seu cabra safado!

O inusitado visitante saltou do cavalo e os dois acertaram o dia do casamento. Enquanto isso, Joana em seu quarto pulava de contentamento, pois já não mais 'ficaria para titia'.


quarta-feira, 5 de março de 2014

Curtas para rir: "Mulheres Opostas"

Duas mulheres iniciavam uma discussão: uma era barraqueira, matraqueira e falava tanto que os tímpanos alheios doíam, a outra era calma, pacata e tímida. Foi então que a barraqueira começou a falar...

"- Você é uma vigarista, uma boçal, uma desclassificada."

E a calma rebateu: "- É como lá!"

Alvoroçada, a matraqueira retrucou: "- Eu sou uma mulher do bem, sou da melhor qualidade, todo mundo mundo gosta de mim!"

"- É como cá!", devolveu a mansa.

E assim continuou, quando ofendida a calma dizia "é como lá" e quando a braba se vangloriava ela repetia "é como cá!"


terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

O pirão de pedra!

( imagem arretada daqui! )
Zé Pilanta era uma ocioso trapaceiro, vivia de praticamente de embuste enganando Deus e o mundo para tirar vantagem e daí angariar lucro e sobreviver às custas de suas presepadas. Mas como diz o ditado: "não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe.", pois bem, zé Pilantra não mais conseguia ludibriar ninguém, uma vez que suas estrepolias já estavam manjadas e Zé Pilantra ficou em palpos de aranha para arranjar sustento. O jeito foi sair de sua cidade e ir para outro lugar onde sua tramoias eram desconhecidas.

Foi então que depois de perambular por vários dias ele chegou em um vilarejo e foi logo procurando uma vítima para satisfazer seus instintos de alma sebosa. Chegou na frente de uma casa e gritou:

- Oh de casa?

Um voz lá de dentro respondeu: - Oh de fora, o que desejas 'vosmecê'?, perguntou a dona da casa a porta.

Zé Pilantra respondeu: - Bons dias Dona, como é sua graça? 

- Eu me chamo Josefa, mas todo mundo me chama de Zefinha. 

E Zé para angariar simpatia exclamou: - Eita que nome bonito! Mais bonito bonito do que este estou por ver!, deixando Dona Zefinha toda orgulhosa pelo galanteio que acabara de ouvir. Zé Pilantra continuou: - Meu nome é José da Silva, mas pode me chamar apenas de Zé que eu atendo com muito gosto.

- Em que posso lhe servi-lo Seu Zé?

Zé Pilantra muito matreiro respondeu: - Nada que possa prejudicá-la, apenas queria que vosmecê me ajudasse a fazer meu pirão de pedra.

- Pelas barbas do Belzebu!, resmungou Dona Zefinha, - vosmecê tá zombando deu?! Ninguém come pedra!

Prontamente Zé Pilantra disse: - Vou mostrar pra vosmecê que o pirão de pedra é o melhor pirão que vosmecê irá comer. Para isso a Dona só precisa me ajudar a fazer esse delicioso pirão me dando alguns temperos e ele ficará um pitel!

- Pois diga o que vosmecê quer que vou lhe dar com muito gosto!

Rapidamente Zé Pilantra dedilhou a lista: - Quero um pouco de farinha, uns ovos, um pedaço de carne, umas verduras, sal e pimenta se não for demais pra vosmecê não...

- Não, não! Para comer desse pirão de pedra tudo o que eu der é pouco!

E Zefinha deu todos os ingredientes pedidos por Zé Pilantra, não deixando de ir olhar como era cozido o tal pirão prodigioso. Depois de uns tempos observando a panela cozinhar Dona Zefinha entrou na sua casa atendendo a um chamado de seu filho. Era a oportunidade que matreiro Zé Pilantra queria para dar um fim a pedra que estava na panela. Tirou a dita cuja e a atirou longe para que ninguém a encontrasse.

Dona Zefinha voltou ao local aonde Zé Pilantra fazia o pirão logo Zé Pilantra declarou: - Pronto, está cozido o pirão de pedra!

- Oxente Seu Zé, cadê a pedra?!

- Ora bolas, cozinhou, não está vendo? Desmanchou-se Dona Zefinha. Vamos comer que minha barriga está dando roncos de fome.

E assim eles comeram o tão pirão de pedra, que, de tão bom que eles acharam rasparam até o fundo da panela.

Depois de satisfeito do pirão, Zé Pilantra tratou de ir embora pois Dona Zefinha, por gostar tanto do pirão, disse iria fazer um outro em sua casa para seu marido que estava para chegar  de uma viagem. Por isso Zé Pilantra botou os pés na estrada matutando como bolar um novo ardil para enganar outro inocente e dando gargalhadas em função do seu êxito no pirão de pedra.

Dona Zefinha botou numa panela todos os ingrediente que deu ao Zé Pilantra, não esquecendo da badalada pedra e esperou três, quatro, cinco e seis horas e nada da pedra desmanchar. Foi aí que ela sentiu que foi ludibriada e enfurecida gritou: - Aquele 'fidumaégua' me enganou, se ele aparecer 'pru qui' de novo juro que me vingo. Tiro suas calças e corto seus documentos de macho, pois apareça, seu filho do demo!!!

Zé Pilantra por ali nunca mais passou!

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

A canjica sumiu!!!

( Festa Junina de 2012 aqui na nossa rua.
Fotografia da minha filha Fabíola)
O São João no Nordeste Brasileira é uma festa ruidosa, alucinante fazendo concorrência até com o carnaval. É forró para todo lado, muitos fogos de São joão são pipocas, muitas fogueiras são acesas, muita comida típica do feriado Junino, como a Canjica - creme para os Sulistas. Pamonha, bolo, pé de moleque, milho assado, milho verde cozido, muita bebida  e tudo isso torna o Nordeste nem um tremendo arraial principalmente nos interiores dos estados nordestinos.

As moças solteiras fazem simpatias prevendo ver o nome de seu futuro cara-metade enfiando uma faca na pobre bananeira, que, segundo elas, sai na lâmina brilhosa as iniciais do futuro marido; e muitas outras simpatias que não me recordo agora.

Feito esse resumo vou-lhes narrar um fato verídico por demais pitoresco na cidade do Figueredo no sertão da Paraíba, lá pelos meados dos anos 50.

Nesta cidade havia uma fazenda cuja dona se chamava Dona Mariquinha. A dita cuja era tia afim de meu cunhado. Na fazenda existia uma empregado meio bobão, avantajado, cujo apelido era Negão.

Pois bem, em uma festa de São João na fazenda Dona Mariquinha já tinha deixado tudo preparado para a farra, como era costume, para que todos os trabalhadores comparecem com suas famílias para confraternizarem uns com os outros e usufruírem de todos os festejos que anualmente eram ansiosamente esperados.

Dona Mariquinha mandou fazer uma fogueira enorme e chamou um sanfoneiro para tocar forró a noite inteira. Fez bolo pé de moleque, bolo de milho, muita pamonha (cural) e dez travessas grandes de canjica (creme), pratos esses que davam para alimentar umas cinquenta pessoas .

( imagem ilustrativa, fonte com receita aqui! )
Os convidados já estavam chegando quando Dona Mariquinha chamou Negão dizendo:

- Negão, se você quiser jantar, coma logo sua canjica...

Dito isto Dona Mariquinha para o jardim receber os convidados. Haviam várias mesas, a dos bolos, das canjica, dos milhos assado e cozinhado, das bebidas, caninhas, conhaques e tudo mais.

Pois bem, Negão sentou-se na mesa das canjicas e soltou a boca, uma a uma as travessas foram ficando limpas. Quando comeu a última canjica Negão deixou a mesa exausto de tanto comer, que, sem forças para andar, ficou foi sentado no chão mesmo.

Pouco tempo depois Dona Mariquinha entrou na sala de refeições e estupefata exclamou:

- Negão, meu filho!!! Cadê as canjicas?!

E Negão meio sonolento respondeu: "A senhora disse que eu podia comer minha canjica, pois bem, comi! A senhora mandou, obedeci."

Depois desta foi preciso procurar canjicas em outras casas para satisfazer o paladar dos convidados.